sexta-feira, 18 de julho de 2014

"O Juízo Final", Miguel Ângelo Buonarroti

"O Juízo Final" é o fresco que ocupa toda a parede atrás do altar na Capela Sistina, na cidade do Vaticano. Foi executado por Miguel Ângelo entre 1533 e 1541.
Para que a execução da obra fosse possível, o autor teve de remover alguns frescos do séc. XV, bem como parte da sua própria obra realizada anos antes para as lunetas superiores da capela.

"O Juízo Final" representa o dia em que todas as almas são julgadas pelo Supremo Juiz: os justos ascendem aos Céus, enquanto os condenados descendem aos Infernos. 
A composição pode ser dividida em três bandas, coroadas por duas lunetas no topo. A sequência do Juízo Final inicia-se no canto inferior esquerdo, com figuras que sobem até à figura de Cristo (que se encontra no centro, ao lado de sua mãe) e volta a descer para o canto inferior direito do fresco, onde estão as almas que vão para o Inferno. 

"O Juízo Final", Miguel Ângelo Buonarroti (fonte: Web Gallery of Art)
As duas lunetas representam símbolos da Paixão de Cristo, carregados por Anjos sem asas. Na luneta do lado esquerdo, os Anjos carregam a Cruz de Cristo. Pensa-se que um dos Anjos, o que segura a cruz mais ao centro, estando quase "deitado" sobre ela, seja o Arcanjo Gabriel. Na luneta do lado direito, por sua vez, os Anjos carregam a Coluna da Flagelação.

"O Juízo Final" - detalhe da luneta do lado esquerdo
 (fonte: Web Gallery of Art)
"O Juízo Final" - detalhe da luneta do lado direito
 (fonte: Web Gallery of Art)




Imediatamente por baixo das lunetas, surge a banda em que está, ao centro, representado Jesus Cristo, ladeado por Maria e rodeado de santos. Cristo tem uma aparência jovem e um corpo musculoso, como é característico das figuras de Miguel Ângelo. O seu braço direito está levantado e o seu olhar dirige-se para a sua esquerda (lado direito do fresco), para as almas condenadas que descem para os Infernos. 
Maria está vestida de vermelho e azul, muito próxima do filho, observando a cena que se desenrola à sua volta. 
"O Juízo Final" - detalhe da banda superior (fonte: Web Gallery of Art)

Uma figura muito enigmática na composição é a de São Bartolomeu, que se encontra por baixo de Cristo segurando uma pele esfolada. São Bartolomeu, um dos doze Apóstolos de Cristo, foi esfolado vivo e crucificado por causa das suas crenças. Este santo é aqui representado velho, quase nu, sem cabelo e com uma grande barba cinzenta. Na sua mão direita, segura o instrumento da sua tortura, estando a olhar fixamente para ele. Pensa-se que a face da pele esfolada seja um auto-retrato de Miguel Ângelo, desesperado e cansado. 

"O Juízo Final" - detalhe de São Bartolomeu (fonte: Web Gallery of Art)

Ainda nesta primeira "banda", várias figuras se destacam: é o caso de São Pedro, uma figura imponente, de pé, com cabelos e barbas brancas, que segura as chaves do Céu; São João Evangelista, por cima de São Pedro, que lança o seu braço direito para a frente; Santa Catarina, mártir que segura o seu instrumento de tortura - a roda, à qual foi atada -, representada com vestes verdes e um corpo pouco feminino; e São Sebastião, ao lado de Santa Catarina, que segura também o instrumento da sua tortura - setas, que foram disparadas contra o seu corpo.


"O Juízo Final" - detalhe (fonte: Web Gallery of Art)

Por baixo, na "banda" seguinte, ao centro, encontra-se um conjunto de Anjos e Arcanjos que tocam trombetas. De acordo com um texto do Novo Testamento, sete Anjos com trombetas chamam os mortos dos quatro cantos da Terra para serem julgados. Estas figuras têm, de facto, uma grande importância na composição. Pairam entre a figura de Cristo no Céu e a escuridão do Inferno. Os Anjos seguram dois livros, dos quais se destaca o Livro da Vida, que determina o destino dos mortos. 

"O Juízo Final" - detalhe de Anjos e Arcanjos com trombetas (fonte: Web Gallery of Art)

Do lado direito dos Anjos destaca-se a figura de um condenado com uma incrível expressão de medo , desespero e terror. Está a ser mordido por criaturas monstruosas, que se enrolam no seu corpo, puxando-o para baixo, para os Infernos. A sua mão tapa um dos olhos enquanto o outro observa o que se está a passar à sua volta.


"O Juízo Final" - detalhe de um condenado (fonte: Web Gallery of Art)

Do lado direito desta figura enigmática, está um conjunto de condenados e pecadores que descem para os Infernos, para a condenação eterna. São agredidos e puxados para baixo por Anjos e criaturas diabólicas, que os conduzem à barca de Caronte, o barqueiro de Hades (mitologia grega), que os levará para o Inferno.

"O Juízo Final" - detalhe dos condenados (fonte: Web Gallery of Art)

Do lado oposto aos condenados, estão as figuras dos justos, dos bons, que ascendem aos céus. Miguel Ângelo representa-os no momento em que são chamados para o Céu e começam a ascender. Alguns parecem um pouco amedrontados e espantados com o que está a acontecer. São representados nus ou semi-nus, sendo que os corpos têm uma qualidade escultórica muito própria de Miguel Ângelo.

"O Juízo Final" - detalhe das almas que ascendem aos Céus (fonte: Web Gallery of Art - editada)

Por fim, na parte mais inferior do fresco, outras duas cenas acontecem em simultâneo: a ressurreição dos mortos e a partida para o Inferno.

No lado esquerdo, Miguel Ângelo ilustra o momento em que os mortos são ressuscitados no final do seu julgamento. Estamos perante uma cena muito sombria, que decorre no que parece ser um cemitério. Os corpos dos mortos são acordados pelas trombetas dos Anjos. Alguns parecem ser puxados das suas sepulturas, outros estão caídos, alguns estão vestidos com as vestes do funerais, outros estão nus. 


"O Juízo Final" - detalhe da ressurreição dos mortos (fonte: Web Gallery of Art)

Do lado oposto, o autor representou a cena da partida para o Inferno, na barca de Caronte. Pensa-se que Miguel Ângelo se terá inspirado na descrição do Inferno de Dante. Caronte, o barqueiro de Hades, leva as almas condenadas através do Rio Aqueronte (um rio da Grécia que se acreditava conduzir ao Inferno), até à entrada do Inferno. Caronte é representado com uma face diabólica, um corpo esverdeado e musculoso. 


"O Juízo Final" - detalhe da partida para o Inferno (fonte: Web Gallery of Art)


Este fresco é uma obra-prima que representa a visão pessoal do autor do final dos tempos. É uma reflexão sobre a morte e sobre a salvação, temas sobre os quais Miguel Ângelo meditava frequentemente, não só presentes na sua arte, mas também nas suas poesias. 



Referências: 

Crispino, Enrica, Artist's Life - Michelangelo, Giunti, 2010

Janson, H. W., A Nova História da Arte de Janson, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010

Mancinelli, Fabrizio, Colalucci, Gianluigi e Gabrielli, Nazzareno, Michelangelo The Last Judgement, Giunti, 2010

Ormiston, Rosalind, The Life and Works of Michelangelo, Hermes House, 2010

Toman, Rolf e Beyer, Birgit, A Arte da Renascença Italiana, Konemann, 2005

Web Gallery Of Art [consult. 2014-07-18]. Disponível em: <URL:http://www.wga.hu/index.html>




















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